OS DISTURBIOS DE COMPORTAMENTO
NAS FÊMEAS
O sucesso da criação depende do bom comportamento
das fêmeas. Normalmente a fêmea colocada na presença
do macho, faz o ninho, põe, choca os ovos e alimenta
os filhotes.
O macho pode ajudar na construção do ninho e
participa na alimentação dos filhotes; a sua
função torna-se cada vez mais importante à
medida que os filhos crescem.
Os principais problemas do comportamento concernentes às
fêmeas são os seguintes:
- A fêmea não põe
- A fêmea destrói constantemente o ninho
- A fêmea põe fora do ninho
- A fêmea põe sem parar
- A fêmea põe, mas não incuba
- A fêmea pica os ovos
- Os filhotes são atirados para fora do ninho
- Os filhotes são pouco ou mal nutridos
- A fêmea pica os filhotes
Analisemos os diferentes casos.
A FÊMEA NÃO PÕE
Normalmente a postura é desencadeada pela visão
do ninho; ela é favorecida pela presença do
macho. Na ausência de ninho, a presença dum recipiente
côncavo pode incitar a fêmea a por; até
pode pôr num comedouro.
Mas é necessário que a fêmea esteja pronta
para pôr, mesmo que o seu ovário contenha os
futuros óvulos. Isto supõe que a temperatura
e a luz tenham variado normalmente como aquelas produzidas
na Primavera. Muita luz e sem muito calor ou o inverso, muito
calor e pouca luz, provocam uma alteração do
ciclo sexual, que é frequentemente acompanhada por
uma muda parcial.
Se a fêmea não põe, malgrado a presença
do ninho e do macho, pode-se mudar o macho e trocá-lo
por outro mais ardente, mais viril. Se o comportamento da
fêmea não muda, é necessário troca-la
por uma outra.
A melhor fêmea é uma de dois anos, cujo comportamento
terá sido testado no ano anterior. Uma fêmea
muito velha pode estar inapta à postura: torna-se estéril.
A FÊMEA DESTRÓI O NINHO CONSTANTEMENTE
A maioria das fêmeas constrói metodicamente o
ninho: empregam materiais grosseiros, depois materiais finos
para o acabamento. Algumas começam a construção
do ninho sem contudo acabar: elas confundem frequentemente
os materiais e finalmente o primeiro ovo é posto num
ninho inacabado e muito mal feito. Geralmente este comportamento
é hereditário. Ele persiste de ano a ano. A
fêmea não sabe fazer o ninho, porque nasceu,
geralmente, num ninho mal feito.
O criador deve intervir para terminar o ninho ou oferecer
à fêmea um ninho completamente feito.
No caso dum ninho de canários, pode-se colocar um ninho
de fibras de coco comprado no comércio. Aos exóticos
pode-se oferecer um ninho bola, em vime, no interior do qual
se cola um revestimento macio, que o pássaro não
poderá arrancar. Geralmente o criador contenta-se em
terminar o ninho, colocando um suplemento de materiais e construindo
uma cavidade para os ovos. Ele pode obter esta cavidade, fazendo
rodar uma maçã no ninho, ou moldando com sua
mão.
Como no curso de criação, o ninho se suja, ele
não pode hesitar em mudar o revestimento no momento
em que ele se torne muito sujo. Os filhotes têm necessidade
de asseio e esta limpeza agirá sobre o comportamento
de adulto. Isto é sobretudo necessário quando
o número de filhotes é importante. Isto é
indispensável no momento em que os filhotes defecam
sobre as paredes do ninho e quando os pais penetram no ninho
para alimentá-los.
A FÊMEA PÕE FORA DO NINHO
Sucede que uma jovem fêmea põe fora do ninho,
seja sobre o fundo da gaiola, seja num comedouro. Ela não
compreendeu a função do ninho que o criador
lhe ofereceu, e não o adoptou.
O mais simples é colocar o ovo no ninho onde ele deveria
ser posto; faz-se o mesmo para o segundo ovo, e assim por
diante até a obtenção duma postura normal.
Se a postura se faz num comedouro, tira-se o comedouro à
noitinha, uma vez que a postura tem geralmente lugar ao nascer
do dia. Para seduzir a fêmea no ninho, pode-se aí
colocar um ovo claro (dum outro casal) ou um ovo falso. Quando
se trata dum ninho caixa, junta-se materiais que se deixam
passar pela abertura; esses materiais excitarão a curiosidade
da fêmea, que visitará então o ninho.
É possível que a fêmea não ponha
no ninho, porque está infestado pelos piolhos ou porque
não é suficientemente próprio. O asseio
é necessário e é preciso então
mudar ao menos o revestimento do ninho, entre duas ninhadas.
A FÊMEA PÕE SEM PARAR
Encontra-se no ninho um número de ovos anormal. No
caso de uma espécie onde o macho e a fêmea são
parecidos, é possível que o casal compreenda
duas fêmeas. É necessário sexar atentamente
os pássaros.
Mas num casal normal, a fêmea pode pôr numerosos
ovos. Geralmente são ovos claros e isto ocorre porque
quando uma primeira postura era feita de ovos claros, a fêmea
continuava a pôr.
Uma observação atenta do número de ovos
teria permitido ao criador ver que não se trata duma
só postura, mas de duas sucessivas separadas por 5
a 6 dias. Algumas fêmeas são capazes desde o
5º dia de reconhecer se um ovo está claro ou não;
neste momento elas podem abandonar o ninho ou pôr de
novo.
Uma perturbação do comportamento pode explicar
uma postura abundante e contínua. A fêmea é
vitima dum desarranjo endócrino. Normalmente quando
a postura atingiu a cifra própria à espécie
(5a 6 ovos no máximo), uma inibição se
produz e isto bloqueia a produção de óvulos
pelo ovário. Em alguns pássaros mais sensíveis
que outros, o bloqueio tem lugar mais cedo e a fêmea
põe menos ovos. A postura torna-se contínua
quando o bloqueio não tem lugar. É necessário
tirar a fêmea e trocá-la por uma outra. Esta
perturbação desaparece geralmente quando a fêmea
é colocada em viveiro não contendo qualquer
ninho, sobretudo na ausência de machos. Pode também
atenuar-se pouco a pouco: a fêmea podendo pôr
ainda alguns ovos num comedouro, antes de se tirar definitivamente.
A FÊMEA PÕE MAS NÃO INCUBA
Esta perturbação pode ter várias causas:
O desenvolvimento é desfavorável: há
muito barulho ou a fêmea está inquieta. Pode
ser suficiente mudar o lugar do ninho ou aquele da gaiola:
a primeira ninhada estará perdida, mas uma segunda
será levada a termo. A fêmea não choca
porque os ovos estão claros, e isto porque ela não
foi coberta pelo macho. É necessário tirar os
ovos e aguardar uma segunda postura. Se a fêmea não
choca, é preciso mudar o macho. O melhor macho é
aquele que não somente cobre frequentemente a fêmea,
mas também que a ajuda a ir para o ninho. Alguns machos
chocam tanto e mesmo mais que a fêmea, mas o mais frequente
e necessário é que a fêmea comece a chocar.
A FÊMEA PICA OS OVOS
Acontece quando os pássaros comem os ovos. O criador
que constata a presença dum ovo e não o vê
no dia seguinte ou quando o número de ovos diminui.
Frequentemente não fica nenhum traço do ovo
desaparecido: ele foi comido. Um pássaro pode muito
bem comer um ovo. Ás vezes um filhote eclode e não
se acha a casca: ela comeu-a, e isto evita que ela atraia
a atenção dum predador, o que pode ter lugar
quando a casca vazia é lançada fora do ninho.
Sabe-se assim quando os pássaros de gaiola podem consumir
os fragmentos de cascas; esses fragmentos dados pelo criador
são uma fonte de cálcio. Por prudência,
ele vai dar o melhor, (por ex. ostras trituradas ou fragmentos
de cascas de ovos...)
É normal que um ovo seja comido depois de ter sido
posto. Geralmente, o criador acusa o macho. Pensa-se que o
macho viu no ovo um corpo estranho que ele quer tirar do ninho;
o ovo é quebrado e comido. Isto é possível,
mas a fêmea pode comer os ovos. É o que tenho
constatado com um casal de mandarins. Para saber se comia
o ovo, coloquei sobre a casca um produto utilizado para impedir
as crianças de roer as unhas. Um primeiro ovo desapareceu
sem problema aparente nos pássaros. Porém após
o desaparecimento dum segundo ovo, a fêmea foi gravemente
intoxicada, enquanto que o macho ficou normal. A mãe
era, pois, culpada. É preciso, então, no momento
em que os ovos desaparecerem depois de terem sido postos,
tirar a fêmea e trocá-la por uma outra.
OS FILHOTES SÃO LANÇADOS PARA FORA DO NINHO
Acontece quando os filhotes são encontrados fora do
ninho, sobre o fundo da gaiola.
Frequentemente apresentam feridas provocadas por cortes de
bico.
No momento em que o criador se apercebe, rapidamente deve
colocar os filhotes no ninho.
Podem cair acidentalmente ou ser assassinados pelas patas
da fêmea, quando abandona muito brutalmente o ninho.
É necessário então evitar assustar a
fêmea que choca, e cuidar para que o ninho seja suficientemente
profundo.
Mas é possível que os filhotes tenham sido lançados
para fora do ninho por um dos pais. Pouco depois da eclosão,
o principal culpado é o macho; ele não reconhece
no filhote o produto dum ovo, e lança-o para fora numa
preocupação de propriedade, ou de defesa do
ninho. Neste caso, é preciso tirar o macho, esperando-se
que todos os filhotes tenham eclodido e chegado a ser bastante
grandes. No Diamante Gould, mais sujeito ao stress, o macho
pode reagir a uma perturbação (barulho, visitante
estranho...), lançando os filhotes pouco depois.
No momento em que os filhotes estão emplumados e prontos
para sair do ninho, podem ser lançados pela fêmea
desejosa de limpar o ninho para tornar a pôr. Algumas
fêmeas tornam a pôr num ninho ocupado, mas outras
expulsam os filhotes a golpes de bico. O sangue pode ocasionar
a picagem: os filhotes se estiverem ainda depenados podem
morrer.
OS FILHOTES SÃO POUCO OU MAL ALIMENTADOS
O crescimento dos filhotes é programado; se ele é
retardado, os pais podem abandoná-los. Na natureza
um retardamento no crescimento corresponde a uma doença
ou ainda afecta o último nascido; esses pássaros
estão condenados; eles não darão jamais
um adulto robusto; os pais têm pressa de fazer uma nova
ninhada, e cessam de alimentar os atrasados. Este comportamento
permite a selecção natural indispensável
à sobrevivência da espécie.
Na criação, o atraso de crescimento tem as mesmas
causas, mas o abandono é menos brutal.
Um pássaro cego será alimentado tanto quanto
será capaz de pedir com insistência sua alimentação:
cessará de o ser quando não virar mais o bico
do lado certo. Os filhotes debilitados por uma doença
(frequentemente colibacilose) serão cada vez menos
alimentados visto que eles terão cada vez menos força
para pedir, levantar a cabeça e abrir o bico.
No que concerne aos filhotes de crescimento mais lento numa
ninhada, trata-se de mutantes, ou de últimos nascidos.
Para salvá-los, o criador confiá-los-á
a outros pais, que tenham filhotes no mesmo tamanho. Para
que todos os filhotes duma ninhada sejam salvos é necessário
que a ninhada fique homogénea, isto quer dizer que
todos os filhotes cresçam regularmente.
Pode-se activar o crescimento dos filhotes, dando-lhes uma
pasta enriquecida em vitaminas. No início do crescimento,
os protídios devem representar perto de 25% da ração;
a seguir sua taxa deve diminuir regularmente em benefício
dos glucídios (amidos dos grãos). Na natureza,
os pássaros aí compreendidos, os granívoros,
fornecem aos recém-nascidos uma alimentação
muito rica à base de insectos e de pólen, bem
como filhotes de larvas e grãos germinados. Por conseguinte,
eles dão mais grãos de amoras.
Se é necessário, em caso de doença, utilizar
um antibiótico, ele deve ser associado a uma mistura
vitaminada e de grãos germinados. Um antibiótico
pode provocar uma carência em vitaminas e retardar o
crescimento.
A FÊMEA PICA OS FILHOTES
Dissemos que a fêmea desejosa de pôr pode expulsar
os filhotes para fora do ninho e picá-los para arrancar-lhes
as penas. Esta hostilidade cessa no momento em que os filhotes
deixam o ninho, salvo se o sangue correu. No último
caso, a visão do sangue tem um efeito agressivo: ele
estimula a picagem. É necessário isolar o filhote,
tirar a pena que sangra e colocar um pó bactericida
sobre a ferida.
Filhotes machos podem ser igualmente picados pelo pai que
o deseja expulsar. Se os filhotes devem ser deixados na presença
dos pais, é necessário dispor duma gaiola suficientemente
grande ou colocar uma separação através
da qual os pais poderão alimentar os filhotes. Quando
uma gaiola é muito pequena, os pais têm tendência
a picar os filhotes. Pode-se também evitar isto, colocando
os pais e os filhotes que deixaram o ninho numa outra gaiola,
onde não haverá ninho.
CONCLUSÃO
Os distúrbios de comportamento não são
raros numa criação. Isto vem do fato de que
se está longe das condições naturais
bem como em matéria de ambiente, quer de material ou
de alimentação. Cuidados de atenção
e a experiência permitem evitá-los ou tratá-los.
A maior parte dessas perturbações não
são hereditárias e não duram de ano a
ano. O criador deve ter interesse em possuir muitas fêmeas
e vários machos de reserva; mudam o macho ou a fêmea
sendo este o meio mais eficaz para pôr fim a uma distúrbio
de comportamento que torna um casal improdutivo.
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